Thursday, April 24, 2008

dicionário da língua portuguesa de 1712 é digitalizado pela USP; acesso é gratuito pela Internet

notícia da Agência FAPESP

Raridade on-line
http://www.agencia.fapesp.br/imagens/spacer.gif
24/04/2008

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – O primeiro dicionário da língua portuguesa foi inteiramente digitalizado por alunos e docentes do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo (USP) e já está disponível para consulta pública e gratuita na internet.

O trabalho de digitalização, que durou cerca de um ano e meio, contou com apoio financeiro da Biblioteca Guita e José Mindlin. Trata-se do Vocabulário portuguez e latino, de autoria do padre Raphael Bluteau (1638-1734), que nasceu em Londres e mudou-se para Portugal em 1668.

Os primeiros oito volumes que compõem o dicionário foram publicados ao longo de dez anos: volumes 1 e 2 em 1712, volumes 3 e 4 em 1713, volume 5 em 1716, volumes 6 e 7 em 1720 e o volume 8 em 1721. Juntaram-se a esses oito volumes dois suplementos publicados entre 1727 e 1728, contendo mais de 5 mil vocábulos que não constavam nas edições anteriores.

Para padronizar as relações entre as ciências humanas e as tecnologias da informática, o projeto incluiu ainda a criação de um sistema de busca, em que o usuário pode procurar uma palavra tanto com base na ortografia atual como naquela empregada no século 18.

“O dicionário é composto por cerca de 43,6 mil verbetes. Um exemplo é a palavra açúcar, que na época se escrevia ‘assucar’. Além de poder encontrar esse vocábulo por meio dessas duas formas, o usuário pode buscá-lo com acento e sem acento”, disse a coordenadora do projeto Dicionários no IEB, Márcia Moisés Ribeiro, à Agência FAPESP.

“O sistema de busca permite ainda a navegação pelo dicionário por meio de cada letra do alfabeto”, conta. O projeto Dicionários no IEB tem como objetivo disponibilizar em versão digital dicionários de difícil acesso ao grande público.

Segundo a historiadora, esse tipo de iniciativa contribui para a preservação da obra enquanto documento raro, permitindo a maior divulgação do patrimônio cultural da língua portuguesa na rede mundial de computadores.

“Além de evitar o excessivo manuseio das obras raras, esse tipo de projeto permite o encurtamento das distâncias, gerando uma economia para as pesquisas com o deslocamento dos profissionais, principalmente nas ciências humanas como história, sociologia e letras", afirma.

A idéia de digitalizar o Vocabulário portuguez e latino, conta Márcia, surgiu em outro projeto de digitalização de obras raras, o Brasil Ciência, desenvolvido no Instituto de Estudos Brasileiros da USP, entre 2002 e 2006, com apoio da FAPESP na modalidade Jovem Pesquisador.

“A proposta do Brasil Ciência foi digitalizar obras dos séculos 17 e 18 relacionadas ao pensamento científico brasileiro. O resultado foi a elaboração de um banco de dados digital com cerca de 800 documentos e 120 livros raros na íntegra, que também estão disponíveis no site do IEB para consulta pública e gratuita”, afirma a historiadora.

No âmbito do projeto Dicionários no IEB, Márcia explica que os próximos a serem trabalhados são os dicionários o Tesoro de La Lengua Guarani (1639), de Antonio Ruiz Montoya, o Diccionario Histórico e Documental (1899), de Souza Viterbo, e o Diccionario da Lingua Portuguesa (1813), de Antonio de Morais Silva.

“A digitalização dessas obras deve começar em maio e deverão estar on-line em um prazo de aproximadamente seis meses”, prevê.

Mais informações: www.ieb.usp.br

Obs. A página específica para acesso ao dicionário é: http://www.ieb.usp.br/online/index.asp

 

Monday, April 21, 2008

Cyberwarfare 101: Black Hats, White Hats, Crackers and Bots

From Stratfor's
April 16, 2008 1326 GMT
Skilled cyberwarriors can be fiercely individualistic and anonymous, though several broad classifications help give definition to the community and highlight some of the major types of actors in cyberspace. [more]

Thursday, April 17, 2008

Miami Herald: Latin America scores badly in Internet ranking

BY ANDRES OPPENHEIMER
Latin America's biggest problem may not be Venezuela's narcissist-Leninist leader Hugo Chávez nor other populists who are grabbing the headlines, but the region's stagnation in the global race for greater Internet connectivity and knowledge-based economic growth.
Indeed, a new world ranking released by the World Economic Forum shows that Mexico, Brazil, Argentina and several other Latin American countries are gradually losing ground in Internet ''network readiness.'' Meantime, Middle Eastern, Asian and Eastern European nations are modernizing much more rapidly, it says.
Why should anybody interested in Latin America's future lose sleep over this? Authors of the study, entitled Global Information Technology Report, say that Internet readiness is the key to long-term growth. Just like countries in the past needed roads and bridges to ship their exports abroad, today they also need good Internet infrastructure to be more competitive in the global economy, they say.
''Information technology is today's general-purpose technology,'' Irene Mia, co-author of the report, told me in a telephone interview. ``It's the infrastructure for all other industries.''
The report, a massive study of 127 countries, not only measures nations' Internet access but also the government regulations, bureaucracy and the business climate that allow them to be technologically competitive.
Denmark, Sweden, Switzerland, the United States and Singapore, in that order, topped the ranking. Denmark and Sweden were at the head of the list last year, while Switzerland and the United States have moved up several places over the past year.
LOSING GROUND7
Most Latin American countries, by comparison, have lost ground in the past year:
• Chile, the top-ranked country in the region, fell from the 31st place last year to the 34th this year.
• Mexico went down from the 49th to 58th.
• Brazil dropped from 53rd to 59th place.
• Argentina suffered one of the region's biggest falls, going from the 63rd to 77th.
• Colombia fell from 64th to 69th.
• Peru fell from the 78th to 84th.
• Venezuela dropped from 83rd to 86th.
What is causing Latin America's decline?
The report's authors said it's not so much that the region has stopped investing in Internet infrastructure, education and innovation, but that other regions are doing it much faster.
South Korea, for instance, is already ranked ninth in the world, and Estonia (20th), Slovenia (30th), Qatar (32nd) and Lithuania (33rd) are all ranked above Chile and the rest of Latin America.
Soumitra Dutta, co-author of the report, told me in a separate interview that Latin American countries may pay a high cost if they don't modernize their information technology sector, especially regarding the government bureaucracy and business hurdles that keep the sector from growing faster.
'Five years ago, when I used to come to Brazil and Mexico to talk about Indian information technology success stories, people said, `interesting, but not relevant,' '' Dutta said. ``Today, Indian information technology companies are taking business away from local players in Latin America.''
India's Tata Consulting firm, for instance, recently won major government contracts in Mexico City, Brazil and Chile. Latin American companies will continue losing contracts at home and abroad if they don't become more competitive, he said.
WRONG ASSUMPTION
My opinion: Latin America's failure to move up in the ranking may be partly due to the region's commodity export bonanza, which has led many countries to complacency. There is a tacit assumption in parts of the region that the current record world prices of oil, soybeans and other raw materials will last forever. They won't.
And even if they do, raw material exports will not save Latin America. It may be no coincidence that Singapore, South Korea, Taiwan, Israel, Luxembourg and several 8
other countries at the top of the information technology index have no raw materials and yet have much higher standards of living than natural resources-rich Latin American nations.
The real threat to Latin America's future -- much more than Chávez and his fellow demagogues in Ecuador, Bolivia, and Nicaragua -- is its own failure to invest in education, science and technology. We're living in a knowledge-based economy, yet many countries in the region have not yet noticed.

Friday, April 11, 2008

Internet Governance Forum: A Commentary on the Second Meeting

IISD Publications Centre
» Maja Andjelkovic, IISD, 2008.

Commentary, copyright: IISD

IISD advisor Maja Andjelkovic comments on the November 2007 Rio meeting of the Internet Governance Forum (IGF). She describes the meeting as "another sound step in building a new model for sharing governance of a global resource," but notes that very few explicit linkages between Internet governance and sustainable development have been made at the IGF.


http://www.iisd.org/pdf/2008/com_internet_gov_forum.pdf

Thursday, April 10, 2008

Concessionárias devem levar banda larga a todos os municípios até 2010

Anatel - 07/04/2008 - [ gif ]
Assunto: Inclusão Digital

O Plano Geral de Metas para a Universalização (PGMU) do Serviço
Telefônico Fixo Comutado (STFC) sofreu revisão que estabelece a
substituição dos Postos de Serviços de Telecomunicações (PSTs) urbanos
por "backhaul" (infra-estrutura de rede de serviços de
telecomunicações). Com a alteração, as concessionárias de telefônia
fixa deverão, até dezembro de 2010, levar a rede de banda larga até a
sede de todos os municípios brasileiros.

O Decreto n.º 6.424, que altera o PGMU, estabelece que 40% dos
municípios sejam atendidos até dezembro de 2008; 80%, até dezembro de
2009; e 100%, até dezembro de 2010. A velocidade da banda larga para
municípios com até 20 mil habitantes deverá ser de, no mínimo de 8
Mpbs; entre 20 mil e 40 mil, no mínimo 16 Mbps; entre 40 mil e 60 mil,
no mínimo 32 Mbps; e acima de 60 mil, no mínimo 64Mbps.

As concessionárias de telefonia fixa - Oi, Brasil Telecom, Telefônica,
CTBC e Sercomtel - deveriam levar os PSTs (quatro orelhões e quatro
terminais que permitem acesso à internet pela telefonia fixa) a todos
os municípios brasileiros até o final de 2011. A obrigação para a
instalação dos postos em áreas rurais foi mantida, mas com novas
regras e prazos. O decreto estabelece que, a partir de 1º de julho, as
concessionárias devem ativar, em até 120 dias da solicitação do
representante legal de cooperativa, um PST para atender a cada Unidade
de Atendimento a Cooperativa situada em área rural.

O serviço de telefonia fixa está presente em todos os 5.564 municípios
brasileiros, mas apenas 2.125 possuem estrutura de banda larga. Entre
as concessionárias do serviço fixo, apenas CTBC e Sercomtel
disponibilizam banda larga em toda sua área de atuação. A Oi atende
265 dos seus municípios e terá de construir a estrutura em 2.730
cidades. A Brasil Telecom deverá levar a estrutura a 452 cidades, já
que hoje disponibiliza a banda larga em 1.406. E a Telefônica deverá
complementar a rede de banda larga em 257 cidades, já que chega em
365.

Brazilian StatementGAC-Board joint session – New Delhi (12 Feb' 2008)

"Mr. Chairman,
As we are in an open session, please allow me at first to publiclyacknowledge the work of our Indian colleagues, in particular from theMinistry of Communications and Information Technology, in hosting this31st ICANN meeting. This event and the on-going preparations for theIII Internet Governance Forum, to be held also here, later this year,show the strong belief and interest of the Indian nation in supportingthe process of internationalization of the Internet.
"Internationalization" is the word that best defines the momentum. Notonly from the technical perspective of introducing non-ASCIIcharacters at the top level of the Domain Name System, but also fromthe political perspective of preparing grounds for a transition of theICANN management structure to a truly international environment. Theseissues seem to bear no apparent relationship, but in the end thequestion that needs to be answered is, in short, "how will theaddition of the next billion Internet users affect present governancestructures? And how should such structures be reshaped to respond tothe building of inclusive, reliable and democratic governanceprocesses on a truly multistakeholder setting?"
The Government of Brazil is fully committed to theinternationalization process of ICANN and its independence from anysingle Government. To that end, the non-renewal of the JPA in 2009 isa requirement. Its termination should be seen, however, as an initialstep of a long-term process aiming at providing worldwide userscontinuous assurances of integrity, stability and reliability of theInternet. Moreover, any new governance structure should be designed tofacilitate the expansion and diffusion of the web as a means tosupport development and digital inclusion, by empowering people andcommunities, taking into account cultural diversity andmultilingualism.
We consider that the principles and decisions adopted at the WorldSummit of Information Society must serve as the inspiration to anenlightened leadership by the Board in the conduct of this process.
In the transition phase, we should aim at striking a carefullybalanced participation of all stakeholders in ICANN decision-makingprocesses. Governments, the civil society, the private sector,intergovernmental and international organizations should pledge tounderstand each other's roles and responsibilities, according to theterms agreed at WSIS. If the new scenario is perceived as allowing aclear predominance of one stakeholder over the others, the legitimacyand credibility of the whole transition will be compromised. As far asGovernments are concerned, for instance, the international managementof the Internet should allow Governments to coordinate themselves todefine public policy issues, which is their sovereign right. For thispurpose, there is an urgent need to strengthen the GAC, in terms ofits role, representation and methods of work. My Delegation considersthis, Mr. Chairman, a key element to be included in the road map forthe transition period, and better sooner than later.
Thank you."

Statement on the Mid-Term Review of the Joint Project Agreement (JPA) Between NTIA and ICANN

NTIA press release on JPA mid-term review
Released April 2, 2008
The National Telecommunications and Information Administration (NTIA), on behalf of the Department of Commerce, recently conducted a mid-term review of the Department’s Joint Project Agreement (JPA) with the Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN). The JPA is a continuation of a series of agreements between the Department and ICANN to facilitate the transition of the technical coordination of the management functions related to the Internet domain name and addressing system (DNS) to the private sector.
Although views during the midterm review represent diverse perspectives, there was general consensus on the need to preserve the security and stability of the DNS and the recognition that ICANN is the appropriate technical coordinator of the Internet DNS. ICANN has made significant progress in several key areas, but most participants agree that important work remains to increase institutional confidence through implementing effective processes that will enable: long term stability; accountability; responsiveness; continued private sector leadership, stakeholder participation; increased contract compliance; and enhanced competition. It is important to note that the Internet Assigned Numbers Authority (IANA) functions contract was not part of the JPA mid-term review.
Over the next eighteen months, NTIA will continue to monitor ICANN’s performance in meeting the ten responsibilities articulated in the annex to the JPA. Furthermore, NTIA remains fully committed to the 2005 U.S. Principles on the Internet's Domain Name and Addressing System.
NTIA would like to gratefully acknowledge the ICANN community’s efforts to provide well-reasoned and substantive contributions to the mid-term review of the JPA. NTIA considers all of the contributions and perspectives shared as invaluable elements of this review and looks forward to further discussions on the topic.

Wednesday, April 9, 2008

Publicado no Observatório do Direito à Comunicação

Governo troca banda larga nas escolas por política de inclusão digital
mais ampla
Gustavo Gindre, especial para o Observatório do Direito à Comunicação
09.04.2008

No dia 7 de abril foi publicado no Diário Oficial da União o Decreto
Presidencial 6424 que determina uma mudança nos contratos de concessão
com as operadoras do Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC):
Telefonica, Oi e Brasil Telecom.

Os contratos, assinados em 2005, obrigavam que as empresas instalassem
Postos de Serviço Telefônico (PSTs) em cada cidade brasileira. Menos
de três anos depois, chegou-se à conclusão que aquelas obrigações
estavam erradas e o próprio governo sugeriu a mudança, sem contudo,
assumir publicamente o equívoco cometido em 2005.

Pelas novas regras, acordadas com as operadoras, estas deixam de estar
obrigadas a instalar os PSTs (exceto no caso de cooperativas rurais),
mas passam a ter que colocar seus backhauls em todas as sedes
municipais brasileiras.

Se a banda larga pudesse ser comparada com árvores, os backbones que
as operadoras possuem seriam os troncos, o backhaul os galhos e cada
cidade brasileira uma folha. Sem o backhaul, não é possível levar a
seiva que vem do tronco para cada folha. Ou seja, o backhaul interliga
o backbone da operadora às cidades. No Brasil, mais de 2000 municípios
não têm backhaul e, portanto, não podem se conectar à banda larga.

A proposta do governo é digna de mérito, porque, no século XXI, é
muito mais importante garantir a universalização da banda larga do que
do telefone fixo. Contudo, este adendo aos contratos de 2005 ainda
apresenta problemas. São pelo menos dois.

As velocidades mínimas exigidas para cada backhaul são muito baixas.
Por exemplo, uma imaginária cidade com 70.000 habitantes teria,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em
torno de 20.000 residências, mas contaria com um backhaul de apenas 64
Mbps. Ou seja, se apenas 1.000 casas tiverem dinheiro para contratar o
serviço de banda larga oferecido pela tele, ainda haveriam 19.000
excluídas e a velocidade máxima disponível para cada residência
conectada à suposta banda larga seria de apenas 64 Kbps, ou igual
àquela obtida por uma linha telefônica comum.

E não há a obrigação para que a operadora faça unbundling em seu
backhaul. Por detrás desse palavrório técnico, tal obrigação significa
que a operadora teria que vender parte da capacidade instalada do seu
backhaul a qualquer provedor interessado em competir com a própria
tele. E a preços não discriminatórios, regulados pela Agência Nacional
de Telecomunicações (Anatel). Essa seria a única forma de estimular a
concorrência. Da forma como ficou, o Decreto permite que os backhauls
sejam usados exclusivamente pelos próprios serviços de banda larga das
operadoras (BrTurbo, Velox e Speedy), matando qualquer possibilidade
de concorrência local.

Mas, principalmente, a falta do unbundling dificulta em muito o
surgimento de experiências de redes comunitárias, organizadas pelas
prefeituras e/ou pela sociedade civil, usando tecnologias sem fio, e
que levam a Internet gratuíta à prédios públicos (como bibliotecas e
telecentros), mas também às próprias casas, o que já fazem Sud Minucci
(SP) e Duas Barras (RJ).

Em resumo, ainda que amplie o alcance da banda larga, o Decreto
Presidencial 6424 está longe de garantir a tão sonhada inclusão
digital de nossa população e tem como efeito colateral o
aprofundamento do monopólio regional exercido por cada tele em sua
área de concessão.

O acordo subterrâneo

A mudança dos contratos de concessão teve que contar com a
concordância das teles. Caso contrário, ficaria valendo a obrigação
inicial dos PSTs. Para convencer as teles, um estudo da Anatel
comprovou que o custo de instalação dos backhauls nos municípios que
ainda não o possuem seria o mesmo da instalação dos PSTs. Seria trocar
seis por meia dúzia, sem onerar o caixa destas empresas. E é óbvio que
as teles perceberam, também, que a futura prestação de serviços de
banda larga lhes trará muito mais receita do que a administração de
postos telefônicos.

Tudo certo, eis que surge um novo elemento. Além da troca dos PSTs
pelos backhauls, o governo negociou um segundo acordo com as teles,
que prevê a instalação de conexão de 1 Mbps em cada uma das 56 mil
escolas públicas urbanas brasileiras, sem custos para os governos
(federal, estaduais e municipais) pelo menos até 2025 (quando vencem
os atuais contratos de concessão). Até 2010 todas essas escolas
deverão estar com a conexão funcionando.

Se as teles brigaram tanto para ter certeza que a obrigação dos
backhauls não lhes custaria nada a mais do que a antiga obrigação dos
PSTs, se não queriam desembolsar nada além do que fora previsto
inicialmente, por que aceitaram tão prontamente este novo acordo, que
foi anunciado no dia 8 de abril pelo prsidente Lula? Nada as obrigava
a este novo acordo. Por que concordaram? Puro patriotismo?

Coincidência ou não, ao mesmo tempo em que começacam as negociações em
torno deste segundo acordo, saía de cena o debate no interior do
governo sobre o "backbone estatal". Essa proposta consistia em dois
movimentos. Primeiro, unificar a gestão dos cerca de 40 mil Km de
fibra óptica que o governo federal já possui, seja através das
estatais ou da massa falida da Eletronet. Em segundo lugar, construir
sua própria rede de backhaul, levando a conexão deste backbone estatal
a cada município brasileiro. Com isso, o governo estaria em condições
de ofertar às cidades (prefeituras e/ou sociedade civil) a
possibilidade de construirem redes locais que posteriormente seriam
conectadas à infra-estrutura do governo federal. Sem fins lucrativos,
este backbone estatal poderia cobrar das cidades apenas o necessário
para se manter e crescer (o que é bem menos do que cobram atualmente
as teles). De inicío, já seria possível prever que as prefeituras e
governos estaduais poderiam usar os serviços de telefonia por IP desta
rede, deixando de ser usuárias das operadoras privadas. Uma economia
de muitos milhões para os cofres públicos. Mas, também seria possível
construir redes comunitárias, que levassem Internet banda larga,
telefonia por IP, webrádio, IPTV e muito mais para todas as
comunidades hoje excluídas das estratégias de mercado das teles. Uma
ligação local, feita de um telefone conectado a esta rede comunitária
para outro igualmente conectado teria preço igual a zero!

Mas, o acordo subterrâneo com as teles foi além. Não bastava apenas
garantir que o governo abriria mão de usar sua própria infra-estrutura
para fazer inclusão digital. As teles também ganharam o direito de
explorar sozinhas a rede que irão construir para chegarem até as
escolas. Essa rede passará na porta de milhares de residência e
obviamente as teles a usarão para vender seus serviços de banda larga.
A proposta do governo não obriga a que as teles tenham que partilhar
essa rede com os provedores locais (o tal unbundling).

Com backhauls e redes de "última milha" para uso exclusivo, as teles
acabaram de ganhar o monopólio da banda larga em todo o país.

Se tudo isso for mais do que uma simples coincidência, quando o
presidente da República inaugurar a primeira escola conectada em banda
larga através deste segundo acordo com as operadoras, o que pouca
gente saberá é que esse evento festivo também será o funeral de uma
idéia muito mais inclusiva. Por esta linha de raciocínio, o governo
negociou a instalação da banda larga nas escolas em troca do abandono
da idéia de um backbone estatal e da morte dos pequenos provedores
locais.

Para as teles, as 56 mil escolas conectadas ainda saíram barato...

** Gustavo Gindre é pesquisador em políticas de comunicação, membro
eleito do Comitê Gestor da Internet no Brasil e membro do Intervozes -
Coletivo Brasil de Comunicação Social.